15 novembro 2016

RESENHA | O Menino Maluquinho - Ziraldo


Alguém aí também se emociona lendo "O Menino Maluquinho", de Ziraldo?

Todo ano, compartilho esta leitura com meus alunos do Ensino Fundamental e quase sempre é a mesma coisa, a voz fica embargada e os olhos marejados de lágrimas, as crianças percebem, mas não entendem, ouço cochichos: "a tia está chorando!", "ela ficou emocionada!".
O Menino Maluquinho aborda o cotidiano de uma criança peralta, divertida, inteligente, saudável, muito amada pela família, amigos, vizinhos e até pela funcionária da casa.
Ele contagia a todos com sua energia e carisma, vive fazendo travessuras, mas não consegue deixar ninguém muito bravo. Tira boas notas em todas as matérias, exceto no quesito "comportamento".
Ele gosta de soltar pipa e jogar bola, ama passar tempo com os avós e tem muitas namoradas.
Ao crescer, o resultado não poderia ser diferente, ele se torna "o cara mais legal do mundo" e todos percebem que ele não fora um menino maluquinho, ele simplesmente fora feliz!
A obra do escritor e cartunista mineiro, lançada em 1980, é poética, sensível, delicada e de uma profundidade difícil de explicar. Ela me leva a refletir sobre o lado mais doce e pueril da criança, muitas vezes ignorado pelo universo adulto, que permeado de expectativas e cobranças, frequentemente esquece que o mais importante é ser e fazer alguém feliz. Mas também me faz pensar sobre outro aspecto da infância, mais triste, que envolve abandono, negligência, falta de paciência.
Como educadora, convivo com crianças e pais de todo o tipo e a frase mais comum que tenho ouvido ultimamente é "não sei o que faço com meu filho!" E esse "não saber fazer" cria um enorme abismo na família, ocasionando a terceirização da educação dos indivíduos para a escola, para a televisão, a internet, o videogame, o celular, a igreja, os avós, os vizinhos.
As consequências são terríveis: adultos que não sabem se relacionar, que não se olham nos olhos, que têm aversão ao toque, que não respeitam as autoridades, que não cultivam valores, que só pensam em si.
Não estou aqui para julgar ninguém, não sou mãe e ainda não decidi se serei, pois também tenho medo do "não saber fazer" e entendo que criar um filho não é uma tarefa fácil, talvez seja a mais difícil de todas e não me sinto preparada para tal desafio. Falo apenas como uma professora que lida diariamente com crianças carentes de afeto, carinho, cuidado, orientação e limites, que muitas vezes são tachadas de "difíceis", "hiperativas", "rebeldes", mas que no fundo só estão gritando por ajuda e atenção.
Choro e me emociono com a leitura desta obra porque gostaria de viver em um mundo onde todas as crianças fossem assim como o Menino Maluquinho: amadas, cuidadas, assistidas, respeitadas, compreendidas em sua singularidade, possuidoras do direito de brincar, imaginar, traquinar e, sobretudo ser feliz!
A versão online do livro está disponível em: <http://www.ziraldo.com/menino/mm7.htm>
O filme é um espetáculo à parte! Merece outro post. Disponível no Youtube.

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