Um pássaro obstinado a voar, não se importa com o ar rarefeito, nem com o lugar onde está. No farfalhar de suas asas, prepara-se para alçar. Sabe que nasceu para isso e que sua hora chegará.
Já esteve em gaiolas, viveiros, criadouros. Cortaram suas asas, tentaram lhe domesticar. Mas o instinto falou mais alto, foi embora para nunca mais voltar.
Cambaleou pelos telhados, saltou de galho em galho até encontrar refúgio num jardim. Alimentou-se do que havia por perto, bebeu a água da chuva, descansou à sombra de um arbusto, esperou suas asas ganharem forças, partiu.
Sobrevoou a cidade, encontrou o seu bando, engajou-se numa aventura sem fim. Aprendeu a pescar, cantarolar, rodopiar, planar. Experimentou a liberdade, ziguezagueou no céu de anil.
Sentiu a necessidade de procriar, conquistou a fêmea, acasalou, deu continuidade a sua espécie, cumpriu seu propósito natural.
Exausto e satisfeito, pousou em frente ao mar, sentiu o calor do sol aquecendo suas penas, o marulho das águas acalmando o coração, a brisa suave a acariciar-lhe, o silêncio, a solidão.
Pela primeira vez em toda a sua vida sentiu-se dono de si e concluiu que sua árdua e incrível jornada não serviu a outro propósito senão conduzi-lo até ali.
Míriam Navarro
27/10/2017
Olha que bonito!! E assim é a vida...Deus escrevendo certo por linhas tortas.
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