22 setembro 2020

Aos que não puderam ser criança no tempo propício!


 
Hoje é dia de celebrar a criança que há em você.

A criança que nasceu em um lar turbulento, que não teve a atenção, o afeto e o valor que merecia.

Que viveu entre adultos confusos, cujos problemas eram maiores que o laço que os unia.

A criança que precisou ser forte para trilhar o próprio destino, sem referência ou alguém que a conduzisse.

Que precisou fazer escolhas baseadas na própria intuição, sem saber como terminaria.

A criança que não aprendeu reconhecer as próprias conquistas, pois ao seu redor só encontrou críticas, exigências e depreciação.

Que tantas vezes chorou sozinha em um quarto escuro, abafando os ruídos para não gerar preocupação.

A criança que nunca pôde compartilhar seus segredos, dúvidas, medos, sonhos por não confiar em ninguém.

Que esteve vulnerável, mas, aguentou firme por não ter a quem recorrer.

A criança que se esforçou na escola e tirou as melhores notas, mas nunca recebeu parabéns.

Que não teve bolos, festas e presentes de aniversário, não comemorou natais, páscoas, carnavais ou festas juninas.

A criança que recebeu olhares raivosos, xingamentos, agressões, palavras ofensivas, sem nunca entender o motivo.

Que foi humilhada, julgada, reprimida.

Que não teve um lar, pois precisou limpar, lavar, passar, cuidar dos irmãos mais novos para ser digna de um teto e um prato comida.

A quem foi negada um pouco de ilusão: “Papai Noel não existe!”, “O Coelhinho da Páscoa não vem!”, “Dia das Crianças não tem nada de especial!”.

Que escutou tantas vezes: “Engula o choro!”, “Pare de resmungar!”, “Saia da minha frente!”, “Não se meta aonde não é chamada!”.

Que presenciou brigas, discussões, cenas pesadas, momentos de terror, sem nunca ser poupada.

Que jamais recebeu um pedido de desculpas, pois seus sentimentos eram irrelevantes.

A criança que está perdida no mais profundo do inconsciente de um adulto cheio de marcas invisíveis, que se esforça para não fazer aos outros o que lhe fizeram, que mata um leão por dia, que de vez em quando abre a caixa de memórias e chora sozinho.

Hoje é dia de abraçar essa criança, de confortá-la, pegá-la no colo, acariciar os seus cabelos, beijar a sua fronte e dizer: “Eu te aceito, reconheço e acolho!”.

De mostrar que está tudo bem, que o passado já não é uma ameaça, que aqueles que a feriram já não o podem fazer, que ela cresceu, é dona de si e responsável pelo que acontece a partir de agora.

Felicitá-la por sobreviver ao caos, encontrar um rumo, ganhar espaço, seguir em frente e escrever uma nova história, apesar de tudo.

De permitir rir, brincar, imaginar, errar, arriscar, desenhar, dançar, cantar, gritar, realizar desejos pueris, sem se envergonhar.

De perdoar, deixar ir, lembrar sem se magoar, entender que esquecer é impossível, mas sempre dá pra ressignificar.

Agradecer, pois, todos esses fatos a conduziram até aqui, tornando-a a pessoa única e especial que tantos admiram e se espelham.

Declarar: “Aceito, agradeço, comemoro!”

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