03 janeiro 2017

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (Resenha)


Oi, pessoal! Tudo bem?
Hoje vamos falar sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, um clássico da literatura brasileira e universal publicado pela primeira vez em 1881, que ganhou grande repercussão no cenário literário da época por tratar-se de uma obra surpreendente e inovadora, que inaugurou uma nova fase na vida de seu autor, colocando-o entre os maiores romancistas brasileiros de todos os tempos.
A história é narrada por um "defunto autor" que decide compartilhar suas memórias, revelando o melhor e o pior de sua vida, sem se preocupar com nenhum tipo de convenção social, dada a sua situação.

"Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia. [...] Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados."

O autor provoca o leitor com uma dedicatória um tanto incomum...

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas"

Com muito humor e sarcasmo Machado de Assis vai compondo a trajetória deste personagem, através de capítulos curtos (alguns com apenas uma página) e um texto fluido. É fato que o vocabulário empregado não é dos mais fáceis, mas o contexto é completamente compreensível. Passemos então aos principais fatos da vida de Brás Cubas.

Brás Cubas nasceu em 20 de outubro de 1805, no Rio de Janeiro, em uma família abastada. Na infância foi um "menino diabo", muito travesso, adorava pregar peças nos adultos, judiar dos escravos, constranger os convidados, sempre com o respaldo de seu pai, que ao invés de repreendê-lo, divertia-se com suas proezas. Na escola, não foi um aluno exemplar, as aulas enfadonhas, o professor severo e a palmatória eram o seu pior castigo.

"Tinha amarguras, esse tempo; tinha os ralhos, os castigos, as lições árduas e longas, e pouco mais, mui pouco e mui leve. Só era pesada a palmatória, e ainda assim... Ó palmatória, terror dos meus dias pueris, tu que foste o compelle intrare com que um velho mestre, ossudo e calvo, me incutiu no cérebro o alfabeto, a prosódia, a sintaxe, e o mais que ele sabia..."

Aos 17 anos, era um adolescente bonito, gracioso, boêmio, ousado, namorador. Nessa fase, conheceu seu primeiro grande amor, "a linda Marcela", uma jovem ambiciosa e interesseira, que fazia sucesso entre os rapazes, a quem conquistou com joias e presentes financiados pelo seu pai.
Preocupada com o futuro do jovem, a família decidiu enviá-lo à Universidade de Coimbra para formar-se doutor. A tristeza pela separação de sua amada foi logo substituída pela ambição de tornar-se alguém influente e poderoso. Ao final do curso, orgulhou-se de conseguir um diploma apesar do conhecimento superficial que adquiriu.

"No dia em que a universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso."

De volta ao Rio de Janeiro, Brás Cubas fica muito abatido pela perda de um familiar, isola-se em uma casa de campo e começa a apresentar traços de hipocondria, é quando conhece Eugênia, a "flor da moita", com quem tem um breve affair, interrompido pelo fato da moça ser pobre e coxa. Em seguida, ele recebe uma proposta dupla: um casamento com uma jovem de boa família e um cargo na política, ambas frustradas pois Virgília, a pretendente, prefere casar-se com outro, não por amor, mas pelo interesse de ser marquesa. Ela torna-se amante de Brás Cubas e juntos vivem uma paixão perigosa e avassaladora.

"Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta ,folhuda e exuberante criatura dos bosques."

E lá se foram os anos, em idade madura, Brás Cubas ainda não tinha carreira ou família,  sua irmã Sabina tenta lhe arrumar uma nova pretendente, Nhã-loló, mas um acontecimento trágico impede o casamento. Ele então reencontra seu amigo de infância Quincas Borba que lhe apresenta uma nova filosofia, o Humanitismo. Cubas torna-se seu pupilo, adquire uma cadeira na câmara dos deputados, mas não consegue alcançar o cargo de ministro. Encerrada a curta carreira política, abre um jornal para criticar o governo com base na filosofia do amigo, filia-se numa Ordem Terceira, onde exerce vários atos de caridade, mas não por muito tempo.
Na velhice cria um "emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade", sua última tentativa de conseguir fama e glória.
Morre aos 64 anos, de uma pneumonia ou talvez de desgsoto por jamais alcançar o reconhecimento tão almejado. Ironicamente, em seu enterro compareceram apenas 11 amigos, dentre eles um amor do passado, que foi quem mais sentiu sua morte.

"Morri de pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e últil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade."

"Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas,coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. [...] Não tive filhos, nãos transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."  

Minha avaliação
Memórias Póstumas de Brás Cubas é um obra que desperta interesse e prazer no leitor. Uma leitura leve, divertida, sarcástica, irônica mas também reflexiva. A  sinceridade do defunto autor ao assumir-se vaidoso, ocioso, egoísta, aproveitador, leviano, nos faz vasculhar os porões da nossa consciência em busca de situações que comprovam o quanto somos hipócritas ao criticar atitudes que nós mesmos praticamos. Faz-nos pensar ainda sobre os esforços que empregamos e o tempo que gastamos em nossos relacionamentos, estudos, carreira, será que vale mesmo a pena ou estamos correndo atrás do vento? Leva-nos a refletir sobre a brevidade e insignificância de nossa existência, por mais que tentemos convencer-nos do contrário, atribuindo-nos um valor imensamente superior ao que realmente possuímos se comparado à grandeza do Cosmos em que habitamos (Destaque para o capítulo VII - O Delírio). 
Que legado deixarei para as futuras gerações? Serei lembrada ou esquecida instantaneamente? Quem lamentará a minha morte? Quem sentirá a minha ausência? São algumas das questões que agora povoam a minha mente. Uma experiência de leitura maravilhosa, por isso, merece 🌟🌟🌟🌟🌟  !

Ficha técnica
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis
Abril Coleções, v. 5
Editora Abril
2010, 336 p.



A adaptação do livro para o cinema está disponível no Youtube! Em breve gravarei um vídeo-resenha no canal!

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